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Edição 054 – Charlie Brown Jr

Charlie Brown Jr. foi uma banda brasileira de rock formada em 1992 na cidade de Santos, por Chorão (vocal), Champignon (baixo), Marcão Britto (guitarra), Thiago Castanho (guitarra) e Renato Pelado (bateria). Sua discografia contabiliza 11 álbuns de estúdio lançados, 4 álbuns ao vivo e 7 DVDs. Excetuando Chorão, todos os membros da banda são naturais de Santos, uma vez que o vocalista é natural de São Paulo.

Em 1987, Chorão se mudou para Santos, litoral de São Paulo após uma infância traumática. Passou a se interessar pela prática do skate, chegando a figurar nas melhores posições do ranking de vários campeonatos brasileiros. Ele teve uma entrada repentina no cenário musical. Um dia, em um bar local, substituiu o vocalista de uma banda, quando este precisou ir ao banheiro. Uma pessoa da plateia, ao vê-lo cantar, fez um convite para integrar sua banda.

Em 1990, quando o baixista saiu, Champignon, com apenas 12 anos de idade, foi apresentado a Chorão por músicos conhecidos que frequentavam o mesmo estúdio do cantor, na cidade de São Vicente, para fazer um teste para baixista. Os dois formaram então a banda What’s Up. Não há registros da What’s Up disponíveis na internet, mas a banda, segundo relatos, fazia um som semelhante ao thrash metal, hardcore punk e crossover. As letras eram em inglês e a pegada era como a de bandas como Biohazard e Suicidal Tendencies. Os dois tentaram divulgar a banda pela cidade.

Em 1993, se juntaram à dupla os guitarristas Marcão Britto e Nando Bassetto e o baterista Vini. Foi com essa formação que a banda gravou sua primeira demo, também em 1993, contendo as músicas “Shake” e “Prostitute Society”, a primeira sendo mais tarde rearranjada, adaptada para a língua portuguesa e gravada no álbum Transpiração Contínua Prolongada, em 1997, com o título “Sheik”. Já com esta formação, começaram a tocar no circuito underground de Santos e São Paulo e fazer shows em vários campeonatos de skate.

Pouco tempo depois, Vini e Nando Bassetto foram substituídos por Renato Pelado e Thiago Castanho, respectivamente, completando a primeira formação do grupo, que ainda não tinha nome. Daquela época, restava apenas um registro em VHS deteriorado, divulgado pelo guitarrista Marcão Britto apenas em 2017, em uma rede social. Segundo ele, “trata-se de imagens inéditas da gravação do primeiro videoclipe do grupo, gravado de forma independente, que chegou a ser lançado, mas “se perdeu no tempo”.

O nome Charlie Brown Jr. só foi escolhido pouco tempo após a formação clássica da banda, quando Chorão atropelou uma barraca de água de coco com o desenho do personagem Charlie Brown. O “Jr.” foi acrescido, nas palavras de Chorão, “pelo fato de sermos filhos do rock”, inspirado por músicos do rock brasileiro à época como Raimundos, O Rappa, Nação Zumbi e Planet Hemp. A sonoridade do grupo tinha influências de grupos como Blink-182, Sublime, Bad Brains, 311, Rage Against the Machine, NOFX e Suicidal Tendencies, misturando hardcore, skate punk, reggae e ska.

Em 1993, a banda começou a se destacar em Santos. Nesta época, a banda contou com a ajuda de amigos, como Pepinho Macia, da loja Metal Rock, frequentada por Champignon. Foi ele quem inscreveu a banda no festival da Move’s Bar no qual o CBJr terminou em terceiro lugar.

Em 1995, já com o nome Charlie Brown Jr., a banda gravou sua segunda demo.

Sempre que a banda se apresentava em casas noturnas, Champignon, menor de idade, tinha que levar uma autorização judicial para acompanhar o grupo. Foi nesta época Champignon começou a namorar a cunhada de um produtor musical chamado Tadeu Patolla. Um dia, Champignon apresentou a Patolla uma fita demo da banda, com 3 faixas, que seriam gravadas no primeiro álbum da banda. Percebendo que a banda tinha potencial, Patolla apresentou a fita demo a um amigo, o também produtor musical Rick Bonadio, então presidente da Virgin Records no Brasil e produtor dos Mamonas Assassinas.

Bonadio gostou do som da banda e os contratou. Nasce então o álbum Transpiração Contínua Prolongada, produzido por Tadeu Patolla e Rick Bonadio com o selo da Virgin. O título do álbum, segundo a banda, retratava tudo que passaram para chegar onde chegaram. Lançado em 1997, o disco vendeu por volta de 500 mil cópias, e foi bem recebido pelas rádios, que executaram faixas como “O Coro Vai Comê!”, “Proibida pra Mim (Grazon)”, “Tudo que Ela Gosta de Escutar” e “Quinta-Feira”.

A primeira aparição da banda na TV, em rede nacional, ocorreu no dia 24 de junho de 1997, no Programa Livre, do SBT, apresentado por Serginho Groisman.

Em 2011, na terceira edição do Viradão Carioca, Rio de Janeiro, Chorão anunciou que tinha uma surpresa para o público, e que a banda voltaria a ser um quinteto. Logo após isso, chamou o guitarrista Marcão Britto para o palco, oficializando sua volta à banda. Em julho do mesmo ano, o baixista Heitor Gomes deixou a banda para buscar o sucesso independente, mais tarde se juntando à banda CPM 22. Com isso, Champignon voltava ao grupo, surpreendendo os fãs com um vídeo postado no YouTube, onde dizia: “Voltei pra ficar! Aqui é minha casa!”. Em uma entrevista Champignon afirmou que ele e Chorão brigaram algumas vezes na vida, mas felizmente puderam refazer a amizade. “A gente tinha uma relação profissional. Apesar de muitas brigas, éramos amigos há mais de 20 anos”.

Em 2012, a banda lança seu segundo álbum ao vivo, Música Popular Caiçara, em CD, DVD e blu-ray, agora com a distribuição do selo independente Radar Records. O álbum foi gravado em dois shows feitos pela banda no ano anterior, sendo o primeiro, no dia 23 de setembro no Curitiba Master Hall, com as participações especiais de Marcelo Nova (Camisa de Vênus) e Márcio Mello; e o segundo, no dia 8 de outubro na Associação Atlética dos Portuários de Santos, com as participações especiais de Marcelo Falcão (O Rappa) e Zeca Baleiro.

Durante um show da turnê em Apucarana, no Paraná, Chorão criticou Champignon, afirmando que ele deveria ser muito grato por ter sido aceito de volta ao grupo “depois de tudo que fez”. Após quase cinco minutos, Champignon deixou o palco quando Chorão disse que iam tocar a canção “O Preço”. O show continuou sem o baixista, e com a plateia gritando “arregou, arregou”. A briga virou notícia após um fã, que gravou todo o discurso de Chorão, divulgar o vídeo com a discussão no YouTube. Com a repercussão negativa da briga, Chorão e Champignon divulgaram um vídeo no YouTube, pedindo desculpas aos fãs, e reafirmando suas amizades.

No dia 6 de março de 2013, Chorão foi encontrado morto em seu apartamento, localizado na Zona Oeste de São Paulo. A morte de Chorão foi causada por uma overdose de cocaína.

A banda estava de férias, com seu último show tendo sido em janeiro em Balneário Camboriú, e o próximo show estava marcado para o dia 22 de março, no bairro de Campo Grande, no Rio de Janeiro. “Íamos voltar a tocar no dia 22, mas isso não vai mais acontecer”. Champignon declarou que o futuro da banda era incerto.

Poucos dias antes de sua morte, Chorão divulgou o novo single do Charlie Brown Jr., intitulado “Meu Novo Mundo”, que seria lançada no próximo álbum do grupo. A canção foi apresentada no dia 28 de fevereiro de 2013, em visita ao estúdio da rádio 89FM, em São Paulo. Na semana da morte de Chorão, o Charlie Brown Jr. dominou a lista de compras eletrônicas no Brasil. No top 10 das músicas mais compradas da semana, a banda apareceu em nove das 10 posições. O único single da lista que não era do grupo correspondia à 5ª posição. Além disso, no dia 14 de março, havia sete discos da banda entre os 200 mais vendidos em uma loja virtual no Brasil. A coletânea De 1997 a 2007 figurou na segunda posição dos álbuns mais vendidos deste dia.

Ainda em março de 2013, Champignon declarou que não havia como o Charlie Brown Jr. seguir em frente com a ausência de Chorão, e em abril, confirmou que os membros remanescentes iriam mudar o nome da banda para A Banca, onde Champignon assumiria os vocais, com a entrada da baixista Lena Papini. O nome vinha da conclusão de Chorão que “a gente não era o Charlie Brown, nós éramos a banca do Charlie Brown.”, enquanto seu papel como vocalista vinha de uma sugestão do próprio Chorão, que no começo de 2013 manifestou exaustão à Champignon, declarando que gostaria de ver o baixista assumindo os vocais do Charlie Brown Jr. durante suas férias para que pudesse descansar.

A primeira apresentação da banda com o novo nome foi no programa Altas Horas, no dia 11 de abril de 2013, e a banda foi confirmada como uma das atrações do festival João Rock 2013. No dia 9 de setembro de 2013, Champignon foi encontrado morto em sua residência em São Paulo, após ter cometido dois tiros, um para teste em direção ao chão acertando em um de seus instrumentos e outro na região de sua boca, resultando em seu falecimento. Câmeras de seguranças flagraram Champignon fazendo dois gestos: o primeiro de “paz e amor” em direção ao chão; e o segundo fazendo o gesto de “degola” com dois dedos, sendo uma prévia de seu suicídio. Sua mulher, grávida de cinco meses, estava na residência e foi levada em estado de choque ao hospital. Os músicos remanescentes seguiram seus próprios rumos, com Marcão Britto, Lena Papini e Bruno Graveto se reunindo no grupo D’Chapas, e todos mais o predecessor de Bruno Graveto no Charlie Brown Jr., Pinguim, na banda Bula.

Os integrantes remanescentes da então formação do Charlie Brown Jr. têm investido na carreira solo e em projetos paralelos na música como forma de seguir em frente suas carreiras musicais.

No dia 2 de fevereiro de 2021, a conta oficial da banda no Instagram, administrada por Alexandre; filho de Chorão, anunciou oficialmente uma nova turnê do Charlie Brown Jr. A tour tinha como objetivo homenagear os 50 anos de Chorão, e nela estariam presentes todos os antigos membros da banda, com exceção de Renato Pelado. Já na ocasião Egypcio (ex-Tihuana) foi anunciado como vocalista.

Já em outubro do mesmo ano, os guitarristas Marcão e Thiago anunciaram que deixariam o projeto por desentendimentos com o filho de Chorão e afirmaram que nunca mais voltariam a participar de nenhum outro projeto organizado pelo mesmo. Ambos guitarristas mencionaram a falta de transparência nas negociações referentes a tour. Pinguim e Egypcio se posicionaram a favor da dupla.

Na ocasião os guitarristas anunciaram uma nova tour que se chamaria “C. Brown JR. – Tour Celebração 30 anos”, a qual não teria o envolvimento do herdeiro de Chorão.

No dia 7 de abril de 2022 os guitarristas anunciaram de forma oficial uma nova tour em celebração aos 30 anos do Charlie Brown. A tour foi anunciada nos mesmos moldes da que havia sido proposta pelo filho de Chorão no ano anterior, reunindo os antigos membros e contando com Egypcio nos vocais. O primeiro show da nova turnê, intitulada Marcão Britto & Thiago Castanho – Charlie Brown Jr. 30 Anos, ocorreu no dia 25 de junho no Qualistage, no Rio de Janeiro.

Em março de 2023 a banda anunciou que o Heitor Gomes optou por deixar o projeto. A partir disso Denis Mascote, que já tocava junto com Thiago Castanho em seu projeto solo e também na banda “O Legado”, assumiu o posto de baixista da banda.

Segundo a revista Super Interessante, “O Charlie Brown Jr. foi a primeira e a maior entre as bandas brasileiras do chamado “novo rock”.” Para ela “com seu vocalista carismático e uma banda com impressionante domínio de palco, entre 1997 e 2002, o Charlie Brown Jr. foi colecionando hits em rádios roqueiras e mantendo sua reputação extreme com faixas mais pesadas e discurso repleto de menções a esportes e à vida familiar conturbada de Chorão.”

Em 2014, o jornalista André Forastieri do portal R7, publicou o livro “O Dia em Que o Rock Morreu”. Nele, há uma passagem que diz:

“Por vinte anos o Charlie Brown Jr. esteve nas FMs, rádios pop, rádios rock, nas TVs e festivais. Alguma coisa eles tinham. As canções eram rock ligue-os-pontos. Conectavam com muita gente. As letras de Chorão eram toscas e sinceras. Ganhavam ressonância e sentido em sua voz malaca. Quando a banda apareceu, era única. Era o som moderno da Califórnia via Santos, muito brasileiro, galinha, eshperto. Eles descobriram um mundo lá fora, recriaram esse mundo aqui dentro, e ali reinaram sem rivais. Mais triste que pensar que o Charlie Brown Jr. morre com Chorão, é reconhecer que a banda não deixa herdeiros.”

Mauro Ferreira, crítico musical carioca, afirma que “ao tocar rap, rock e reggae com a linguagem e os códigos do hardcore, a banda santista estabeleceu empatia quase imediata com a parcela (imensa) da juventude que se sentia à margem da sociedade, excluída dos círculos da elite burguesa.”

Para Marcelo Moreira, do site Combate Rock, “o Charlie Brown Jr., faz falta ao cenário do pop rock nacional, ainda que, em termos de qualidade, estivesse longe das grandes bandas nacionais do gênero. Mesmo em processo de decadência, com alta rotatividade na formação e nos constantes barracos e polêmicas que envolviam a banda, Chorão conseguia manter a cabeça acima da água no pântano lamacento que se tornou o pop rock nacional”. Bruno Saruê complementa afirmando que “O Charlie Brown Jr. mudou completamente o cenário decadente do rock nacional, trazendo o rock de volta ao mainstream e angariando fãs de outros segmentos musicais, em razão da sua mistura de ritmos e letras que representavam o sentimento dos jovens na época”.

Referências de pesquisa: Wikipédia

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